Vicunha: política de negócios visando o mercado global
20/09/2024
Vicunha: política de negócios visando ao mercado global
Com 56 anos de mercado e presença em mais de 20 países, a Vicunha tem investido numa sólida política voltada a projetos e práticas que unem inovação e sustentabilidade. Referência em soluções na área do jeanswear e atuando simultaneamente no segmento de tecidos denim e brim, a empresa tem o propósito, como manifesta o CEO Marcos De Marchi, “de estimular a cultura do jeanswear, para que cada pessoa no mundo encontre seu jeansidentity”.
Dentro da perspectiva da política da empresa, como se dá a inserção da Vicunha no mercado global?
A Vicunha tem operações no Brasil, América Latina e Europa. Nos últimos anos, direcionou o foco do negócio para a expansão internacional, baseada em nossos direcionadores de sustentabilidade. Contamos com 11 escritórios comerciais ao redor do globo, sete centros de distribuição e cinco unidades fabris. Presente em mais de 20 países, a companhia é uma das três maiores produtoras de denim do mundo, reforçando sua inserção e competitividade no mercado global.
De que forma a sustentabilidade está presente na atuação internacional da empresa?
Os clientes globais, principalmente na Europa, demandam soluções sustentáveis, algo que está totalmente alinhado com a nossa atuação. A Vicunha foi a primeira têxtil nacional a entrar na Europa nos anos 1990, pois tínhamos, na época, certificações que nenhuma outra empresa detinha, como a Oeko-Tex. Fomos pioneiros no uso do algodão regenerativo no denim, com a linha Regen. Lançada primeiramente na Europa, teve pronta aceitação. Com base no retorno positivo dos parceiros, planejamos aumentar em até 15% a produção de tecidos com algodão regenerativo até 2025, direcionando parte dessa produção para o mercado externo.
O que representa para a Vicunha o comércio internacional, em termos de percentual da produção?
O comércio internacional é crucial para a Vicunha, variando entre 30% e 40% da receita da companhia. Esta fatia significativa do nosso negócio evidencia a importância do mercado externo para a estratégia de crescimento e competitividade global.
Quais os investimentos a companhia tem feito para consolidar sua atuação no mercado externo?
Nos últimos quatro anos, investimos cerca de R$ 500 milhões na América do Sul, especialmente no Brasil, Argentina e Equador, países em que temos unidades fabris. Os aportes foram feitos focando na modernização fabril, excelência operacional e produção sustentável. Em 2023, foram R$ 101 milhões direcionados para ampliar nossa capacidade de produção e expandir nosso mercado na região. Este ano, em 2024, estamos investindo cerca de R$ 190 milhões para fortalecer nossas operações na América Latina.
Quais os aportes que a Vicunha tem feito em suas unidades de produção?
Na Argentina, investimos R$ 70 milhões para uma nova fiação no país, inaugurada recentemente. Dobramos ali a capacidade da tecelagem, o que nos permite atender melhor à demanda crescente. No Equador, ampliamos a produção de brim, aumentando o potencial produtivo em 300 mil metros ao mês, lançando dez novos produtos. Estes investimentos são fundamentais para a expansão no mercado internacional, levando artigos de alta qualidade, produzidos com práticas sustentáveis.
Paralelamente aos investimentos em produção, a Vicunha acompanha o comportamento do consumidor de forma geral?
Em parceria com o IEMI – Inteligência de Mercado, a Vicunha realizou pesquisa com consumidores de moda de diferentes perfis e regiões do Brasil. Mudanças climáticas, queimadas e desmatamento estão cada vez mais presentes na mente dos consumidores. Mais de 53% dos entrevistados acreditam que o jeans adquirido na última compra é sustentável. São dados que refletem mudança significativa nos hábitos de consumo.
Como se dão as práticas ligadas à inovação?
A Vicunha investe em soluções que estão na vanguarda do mercado. Exemplo notável é a inauguração da VSA, em 2024. A estação de tratamento zera o consumo de água de mananciais na unidade de Pacajus, no Ceará. Ali só é utilizada água de reuso, a partir do tratamento de esgoto doméstico. Já o V.Laundry, lançado em 2023, foi o primeiro hub de inovação em denim da América Latina, permitindo o desenvolvimento de coleções com menor uso de água e de químicos, e menos tempo de criação. Por fim, com a linha Hemp, investimos em tecidos feitos com fios de cânhamo, fibra naturalmente resistente que requer menos água e químicos para o cultivo.
Como a indústria nacional pode enfrentar os atuais desafios, visando à competitividade?
O “Custo Brasil” é um dos maiores desafios, com impacto da carga tributária. Pesa também a falta de infraestrutura adequada, como estradas, portos e ferrovias. Outros desafios constantes são a volatilidade cambial e a competição com produtos importados, vindos de países com menos impostos e muitos subsídios governamentais. Superar obstáculos requer políticas públicas eficazes e colaboração estreita entre o setor público e privado.
Há modelos internacionais que poderiam ser adotados para que a indústria têxtil brasileira volte a crescer no cenário mundial?
A indústria brasileira avança. Mas o Brasil poderia adotar modelos internacionais para revitalizar a indústria têxtil local e aumentar a competitividade global. O modelo asiático, ao investir massivamente em tecnologia de produção e automação, além de promover políticas de incentivo à exportação, é um exemplo. A Europa, por sua vez, agrega valor ao produto ao investir em sustentabilidade juntamente com pesquisa e desenvolvimento. O Brasil deve implementar políticas de incentivo fiscal, apostar na infraestrutura logística, promover parcerias público-privadas visando à inovação, além de fechar acordos internacionais para comércio de têxteis.