30 E 31 DE OUTUBRO | SENAI CIMATEC - SALVADOR | BA

Políticas Regulatórias, cruciais para o comércio global, em pauta do Comgresso

11/10/2024

Políticas Regulatórias, cruciais para o comércio global, em pauta do Comgresso

 

“Políticas Regulatórias Globais – Impactos no Comércio” é o título que norteia o Painel 2 do Congresso Abit, com a coordenação da especialista em Comércio Exterior e Assuntos Regulatórios, Patrícia Pedrosa. Com a presença de quatro painelistas, a discussão girará em torno das regras do comércio internacional.

O propósito é abordar como as políticas comerciais e regulatórias estabelecidas pelos países afetam as decisões empresariais, especialmente na hora de explorar novos mercados. Entre as questões principais, está a avaliação das oportunidades e riscos em mercados estrangeiros, considerando o dinamismo e as tendências atuais que impactam os fluxos de comércio global.

Os palestrantes trarão suas experiências diretas com o processo de exportação e internacionalização de suas empresas. A Bratac, que atua no início da cadeia têxtil com a produção de fios de seda, e a Farm, que leva o produto final e a marca Brasil para o exterior, compartilharão vivências e desafios no comércio internacional.

Além disso, o norte-americano David F. Olave, da área de consultoria, destacará a importância das políticas comerciais dos Estados Unidos. Já o empresário português Mário Jorge Machado, presidente da Euratex, trará a visão europeia sobre os novos regulamentos que priorizam a sustentabilidade.

“Estes regulamentos, tanto nos EUA quanto na União Europeia, têm impactos profundos no comércio global, afetando empresas dentro e fora desses mercados”, assinala Patrícia Pedrosa. Neste sentido, o painel discutirá como políticas defensivas e ofensivas moldam a competitividade no setor têxtil, que enfrenta forte concorrência internacional.

 

Tradição, qualidade e desafios na produção de seda

A Bratac, como case na área de comércio internacional, estará representada pela diretora Renata Amano. Criada no Brasil em 1940, a empresa se tornou a maior fiação de seda do mundo. “Dedicação dos sericicultores, investimento em tecnologia e aprimoramento do cultivo”, segundo Renata (terceira geração no comando), tornam a seda da Bratac uma das mais desejadas na Europa e nos Estados Unidos. E até no Japão, onde os quimonos mais tradicionais são feitos com esta seda que o Brasil produz.

A companhia, fundada por Kenhi Amano e presidida por Antônio Takao Amano durante quase seis décadas, oferece produtos 100% naturais que podem custar até 25% a mais que os da concorrência internacional. “A produção quase artesanal limita a competitividade, mas a qualidade é inconstestável”, comenta a empresária.

De fato, a seda da Bratac representa 0,3% do market share mundial. Aumentar esta participação significaria ter que triplicar a produção, o que esbarra em questões de políticas para o setor, assinala Renata Amano.

Além da moda de luxo, a Bratac quer estar presente em outras áreas de ponta, como a biotecnologia. Tendo a China como principal concorrente no têxtil, a executiva assegura: “A sustentabilidade e a constância de qualidade da seda são os nossos grandes diferenciais”.

 

Cores e estampas do Brasil para o mundo

A carioca Farm, por sua vez, traz para o painel do Congresso o trabalho realizado em duas frentes, com as marcas Farm e Farm Rio. Com a primeira atende o Brasil e América Latina; com a segunda, chega aos Estados Unidos, à Europa e até aos Emirados Árabes.

Para Marcella Cortez, Production Manager da empresa, não faltam relatos ligados aos clientes e ao consumidor final. O trabalho com estampas e cartela de cores bem elaborada geram a boa “química” com os admiradores da marca e consolidam a sua proposta de branding.

As vendas externas se iniciaram em 2019, conforme relata a executiva. E desafios não faltam. Eles vão desde requisitos de compliance e informações técnicas sobre produtos até a seleção de modelos na grade da coleção. “Conhecemos estes mercados e estamos atentos a qualquer mudança no comportamento do negócio e do consumidor”, adianta a executiva. “Cuidamos de tudo, do produto à loja, dos materiais à entrega para refletir o nossa cultura e DNA nos pequenos detalhes”.

Marcella Cortez garante que esta atenção tem assegurado o êxito das participações na Cotterie de Nova York e, mais recentemente, da Cabana (Miami) e Brand Assembly (Los Angeles).

 

Pressões regulatórias globais e novos modelos de comércio

David Olave, associado e conselheiro de Política Comercial da Sandler, Travis & Rosenberg, P.A., traz para o debate suas duas décadas de experiência em questões comerciais dos Estados Unidos. Segundo ele, “políticas regulatórias globais hoje pressionam empresas têxteis e de vestuário a investir pesadamente em conformidade regulatória”. O objetivo, na visão do especialista, é “navegar em uma infinidade de leis sociais, ambientais e de proteção ao consumidor ao redor do mundo, tendo em vista os novos modelos de comércio”.

“As empresas do setor são pressionadas a se tornarem profundamente conscientes de suas cadeias de suprimentos”, alerta Olave. Isto inclui até mesmo a participação do processo de descarte de produtos após o uso final pelo consumidor.

Como lembra o executivo, países, bem como jurisdições individuais em países, exigem que as empresas implementem ou aumentem os níveis atuais de diligência prévia, transparência e rastreabilidade. “Ao mesmo tempo, novos modelos de comércio, como o cumprimento de pedidos individuais on-line por meio do processo De Minimis nos EUA, e a diversificação de cadeias de suprimentos para aumentar a resiliência da própria cadeia de suprimentos oferecem novas oportunidades de mercado e redução de custos econômicos”, assinala.

Embora não haja uma solução única, o especialista norte-americano frisa que existem pontos em comum que podem ajudar as empresas a influenciar o processo regulatório, garantindo a conformidade com essas regulamentações, ao mesmo tempo que aproveitam novas forma de estabelecer negócios.

 

Modelo europeu, afinidades e oportunidades

O Congresso Internacional Abit recebe também o empresário português Mário Jorge Machado, recém-eleito presidente da Euratex, a Confederação Europeia da Indústria Têxtil e do Vestuário. Eleito em junho deste ano, Machado, que é acionista e administrador da empresa portuguesa Adalberto Textile Solutions, tem como meta para seu mandato “promover uma estratégia industrial eficaz e inteligente”, com o objetivo de otimizar o desempenho da indústria europeia de têxteis e confecção.

O dirigente ressaltou, em recente entrevista ao Fashion Network Portugal, que a indústria europeia enfrenta taxas de crescimento inferiores às de seus principais concorrentes, como China e Estados Unidos, e que isso precisa ser revertido. Para ele, os governos da Europa devem priorizar o setor têxtil nas negociações globais, assim como os EUA e a China fazem ao apoiar suas indústrias.

Além disso, Machado destaca a importância de adequar a legislação da União Europeia sobre sustentabilidade e circularidade ao ritmo de adaptação da indústria. Ele aponta que a UE tem emitido muitas normas para regular o setor, mas falta uma maior atenção à resposta dos consumidores.


TAGS: noticias