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Embaixador Roberto Azevêdo analisa panorama do comércio mundial

04/10/2024

Embaixador Roberto Azevêdo analisa panorama do comércio mundial

 

O Congresso Internacional Abit 2024 inicia-se, no dia 30 de outubro, com a participação muito especial do embaixador Roberto Azevêdo. Engenheiro e diplomata, ele ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1984, tendo servido as embaixadas do Brasil em Washington e Montevidéu, além da Missão Permanente do Brasil em Genebra. Foi Diretor-geral da OMC de 2013 a 2020.

Ao Congresso Abit ele comparece para tratar do tema “Nova realidade mundial e seus impactos”, traçando o panorama de transformações geopolíticas que moldam o cenário global.

Com o experiente olhar de quem tem atuado no cerne de questões comerciais em âmbito global, Azevêdo aponta as possíveis implicações para o Brasil e a indústria autante no mercado internacional.

Falando com exclusividade para o site do Congresso Abit, ele destaca alguns aspectos do panorama global do comércio, no qual se insere o setor Têxtil e da Confecção.

 

Congresso Abit –  Dentro da perspectiva internacional, acordos bilaterais fazem falta para que o têxtil e a confecção do Brasil ganhem mais mercado?

Roberto Azevêdo – O setor de têxteis e confecções é extremamente competitivo internacionalmente. Há produtores importantes e muito eficazes como China, Bangladesh, Vietnam, Turquia e outros. Acordos de livre comércio ofereceriam ao produtor brasileiro uma margem de preferência no mercado importador que pode ser bem significativa. O maior acesso a mercados sofisticados também poderia dar importante impulso em inovações, criatividade e desenvolvimento tecnológico.


C. A. – Barreiras tarifárias têm sido um entrave para que a produção brasileira avance para além das fronteiras do país?

R. A. – Justamente em razão da alta competitividade internacional no setor, as barreiras de acesso a mercado são tradicionalmente elevadas. As quotas foram virtualmente eliminadas nos mercados avançados, mas as tarifas de importação no setor permanecem, em geral, bem acima da média aplicada aos demais produtos industrializados. Barreiras não tarifárias também são comuns e tendem a ser entraves significativos.

 

C. A. – Questões internas – ‘Custo Brasil’, investimento no parque industrial, legislação trabalhista, por exemplo – são entraves que freiam a competitividade da nossa indústria lá fora?

R. A. – Todos os componentes da planilha de custos fazem diferença nesse mercado tão disputado. Custos da mão de obra e dos encargos trabalhistas, preço e confiabilidade na aquisição de insumos, custos do capital e do maquinário, impostos de importação incidentes sobre bens de capital, eficiência dos serviços de logística, desoneração tributária das exportações, enfim, há sempre um bom espaço para melhorar a competitividade externa da indústria nacional.

 

C. A. – A primeira década dos anos 2000 foi marcada por uma efervescência no comércio mundial, tendo a China como protagonista no cenário. Já a segunda década, refletiu o impacto causado pela crise financeira de 2008. O comércio mundial, que tentava se recompor, foi drasticamente afetado pela crise sanitária mundial em 2020. Há alguma forma de recuperação? De onde ela viria?

R. A. – O custo da mão de obra na China era um grande diferencial. Esse quadro mudou mais recentemente e, com isso, a produção de têxteis e confecções migrou para outros países. Plataformas de exportação importantes também se consolidaram em países como Bangladesh e Vietnã, que são hoje competidores muito eficientes. O comércio mundial vai se recuperando, mas enquanto ele costumava crescer duas vezes mais rápido que a economia global, hoje essa relação é de 1 para 1, ou até menos. Países centrais (dos quais dependem países periféricos e semi-periféricos no mercado global) são mais protecionistas e esse comportamento é contagioso. O imperativo da competitividade é cada vez mais real e incontornável.